“Floriu o Ipê. Foi pra mim? Não, pra você!”

Na correria daquela manhã, o café desceu a vácuo pela garganta. O sono ainda imperava e até o cabelo estava custoso (como sempre!) de pentear. Não olhou pela janela nem viu se tinha sol. Só cumpriu o protocolo matinal diário: pular da cama, fazer xixi, engolir uma xícara de café puro, escovar os dentes, entrar na roupa, tomar a água benta da mãe, juntar os cabelos num coque, pegar a bolsa e sair.

Sim, agia como autômata e, ainda assim, era custoso sair de casa. Mas naquele dia seria diferente. Antes de abrir a porta pra rua, ela nem imaginava, mas a cor ia invadir o seu dia. E foi como aconteceu. Com o primeiro pé na calçada ela viu. Aquela copa de flores amarelas, num fundo “azul mês de agosto.”

Foi uma surpresa! Um dia atrás não tinha nada ali e foi tão repentino que era mesmo como se aquele ipê tivesse se materializado só pra melhorar aquela segunda-feira modorrenta. E aquele azul de agosto, o que era aquilo? Não era mesmo à toa que agosto era seu favorito no calendário, a despeito de tudo que dizem as crendices a respeito do mês.

Nem olhou mais o relógio e desligou o piloto automático. Tratou de voltar pra dentro de casa, até meio envergonhada por aquela beleza toda. Como assim aquele ipê tinha se vestido todo lindo pra ela sair toda bagunçada daquele jeito? Não dava pra alcançar a magnitude do seu parceiro amarelo, mas dava pra ficar melhor.

De volta dentro de casa, deu uma ajeitadinha mais atenta nos cabelos e escolheu uma roupa mais feliz. Sentada à mesa da cozinha, saboreou uma xícara de café por loongos dez minutos e lembrou o quanto café é bom pra espantar o sono. Trocou sapato, passou batom e finalizou com um brincão (séculos que nem usava brinco!).

Pisou de novo na calçada já mais senhora de si, já com vontade de ir aonde tinha que ir. Subiu com passos firmes a rua, ouvindo sua música favorita no fone de ouvido e se sentindo a garota do clipe. Quem prestou atenção deve ter pensado que era louca. Mas ela não era louca. Era só amiga do ipê e fazia tempo que não via seu amigo querido.

Passou pelo ipê, deu uma piscadela sorridente e pediu a ele: “Vê se não atrasa de novo, pensei que não vinha nesse ano!”