Sobre os clássicos Domingos de Páscoa

Pensava no afilhado na mesma intensidade como Mano conseguiria levar o Cruzeiro até o final da Libertadores com título. Desde 2011, essa era sua principal vontade. Caio tinha chegado um ano depois, veio depois do pior ‘verón’ que teve.
De nada adiantou gastar os poucos trocados com a roupa infantil do clube estrelado para presentear o menino... O garoto tinha saído como o pai, não gosta de tocas, era da cidade.

Afastados quase 200 km de distância, uma ligação diminuiria a saudade do afilhado que apesar de muito educado não gostava muito de falar, não pelo telefone. Um papo rápido com a irmã, certificou-se que a sobrinha caçula estava bem. Talvez Luiza ainda gostasse do brilho das cinco estrelas, mas não depositava muitas esperanças. De qualquer forma, quem sabe dessa vez os conselhos paternos perderiam o favoritismo...

Pelo telefone:

- Ei, Caio. Deus abençoe.
-Bênção, madrinha.
-Vai vir quinta ou sexta?
-Acho que na sexta, talvez, ainda não sei. Tem que ver com meu pai.

-Uhn, entendi. Páscoa é domingo, né?
-Aham.
-Mas menino que não acredita em coelhinho não ganha ovo.
-Ah, a vó já prometeu que vai me dar um.
-Então a madrinha não precisa comprar?
-Ah, precisa não.
-Vou te dar uma caixa de bis.
-Branco?
-Isso, branco.
-‘Tá’ bom.

Sabendo que já estava nos momentos finais daquela conversa, resolveu colocar uns acréscimos.

-E o final do mineiro, hein?!

-Ah, sempre dá Cruzeiro e Galo, né madrinha?!

-Não. Lembra quando o Coelho saiu vitorioso em cima da Raposa e foi para a final com o Galo? Você me mandou um monte de coelhinhos no WhatsApp da família.
Relevei porque você ainda acreditava no mascote da páscoa, fingi que não sabia quem era coelho no campeonato mineiro.

-Nem lembro que fiz isso, só lembro do título do Atlético, ganhando do América.Do Coelho, né?

- Mas e esse, quanto vai sair?!

- Primeiro jogo, 2x1.

- Para o Cruzeiro?

- Não, né?! Para o Galo.

-E o segundo vai ser 1x0 pro Cruzeiro, porque vai ser no Mineirão.

- Pelo regulamento dá Cruzeiro, hein?!

-Ixi, é mesmo. Então o último vai sair 0x0.

A conversa terminou, e pelo menos o resultado tinha sido positivo.

O garoto, assim como a madrinha, sabia que um possível chocolate seria amargo para paladares com gostos tão distintos. Não compartilhar as mesmas paixões com um de seus maiores amores tem gosto de derrota na final. Amargo, bem amargo.

Sem a garantia do chocolate, é certo que novos tempos vêm aí.O próximo papo sobre decisões será sem Galos, Raposas, Coelhos, quem abre voo é o Canarinho. A família reúne-se novamente, pronta para saborear um bom chocolate, dessa vez tem que ser puro e brasileiro. A preocupação com o esquema tático de Mano se desfaz. Na verdade, a preocupação é com a mana que não entende nada sobre o universo dentro das 4 linhas e resolve fazer os piores questionamentos nos 35’ do 2° tempo... Aí não tem quem consiga manter o papo!